domingo, julho 02, 2006
Qualquer caminho serve
Ao responder a um questionário, uma jovem intercambista coreana do Rotary disse que, entre os grandes problemas da juventude atual, um que considera muito preocupante é a apatia. Seria a apatia a causa (ou consequência?) do comportamento errático dos jovens de hoje, em todo o mundo. É a falta de perspectiva, de confiança no futuro - no seu próprio e no da humanidade – que faz com que não se dê muita importância ao papel que cada um deve representar na sua comunidade e no mundo.
Até onde consigo enxergar, esse não é um problema unicamente vinculado à idade - neste caso, à falta de. Mostrar-se ou ser apático, em qualquer idade ou lugar do mundo, é às vezes uma defesa contra a difícil arte de viver nele.
Saber o que fazer, como fazer, que caminho seguir na vida não é fácil. Felizes dos que logo, logo descobrem isso.
Quando Alice (lembram dela?), em seu estranho e maluco passeio pelo País das Maravilhas, pergunta ao Gato qual caminho ela deve seguir, ele responde perguntando aonde ela quer chegar. Alice responde que não importa muito e o Gato diz então que qualquer caminho serve.
É bem isso: se a gente não sabe pra onde vai, qualquer caminho serve... A metáfora do Gato de Alice tem sido muito usada para explicar a confusão de objetivos de nossos tempos. Dizemos que principalmente nossos jovens não sabem o que querem, por quê querem, e para onde irão. Parece difícil ser jovem hoje, quando a necessidade de sucesso pressiona para que se mantenham com aparência e mentalidade jovens, e paradoxalmente deles exige experiência e maturidade. Tudo isso a curto prazo... Enquanto isso, enquanto se perdem um pouco pelos caminhos que ainda não sabem escolher, a adolescência e a juventude vão se estendendo por anos e anos... (alguns morrem aos 80 ainda adolescentes e confusos).
A verdade é que os adultos também se perdem e ficam esperando que o Gato lhes dê uma resposta. Ilusão: a uma certa altura da vida, a resposta tem que estar dentro da gente mesmo, e, pior, não há muito mais tempo para se testar caminhos. A gente tem que seguir a intuição.
O Gato de Alice ainda piora a situação dizendo que, seguindo um ou outro caminho, ela encontrará a Lebre ou o Chapeleiro, e ambos são malucos. E ela também é maluca, pois está ali. Ah, isso explica muita coisa!
Texto: Bete Padoveze (Maio 2005)
Foto: Estrada para o Cemitério do Campo (Lea Minshull 2003)
Foto: Estrada Rio das Pedras (Bete Padoveze 2010)
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