Com o interesse despertado pela reportagem publicada no Caderno 2 do Estado de São Paulo em 11 de agosto de 2001 e após um contato telefônico om o Sr. Wilson Guidotti, um dos atuais proprietários, fomos visitar a Capela de São Pedro de Monte Alegre, em Piracicaba, no último domingo de janeiro.
Tomando o caminho ao lado da ESALQ, avançamos um pouco além da fábrica existente no local e já na entrada da Vila Monte Alegre pudemos ver a capela no alto da colina. Embora informados de que estaria aberta aos visitantes todos os últimos domingos do mês, a capela estava fechada. Conversando com algumas pessoas da vila, chegamos ao nome do Sr. Pedro Bocatto, um dos responsáveis pela visitação, que nos indicou a casa de Da. Inês, que, muito gentilmente e já habituada aos visitantes, abriu-nos a capela.
Tanto exteriormente como interiormente, ela pouco tem da ideia que fazíamos de uma capela de usina açucareira. É mais que isso - é uma pequena igreja, que contém 600 metros quadrados de pintura, obra de Alfredo Volpi, um dos mais importantes pintores modernistas brasileiros.
A capela foi construída pelo usineiro Pedro Morganti a pedido de um de seus empregados, para que os imigrantes italianos e os empregados da usina pudessem rezar, e foi inaugurada em 1937 para o batismo de uma de suas filhas. Pedro Morganti, interessado em arte e sentindo nostalgia da Itália, encomendou uma réplica da igreja existente em Siena, sua terra natal, que data do ano 1100, aproximadamente.
Para a decoração, optou por Alfredo Volpi, que trouxe consigo Mário Zanini, entre outros, para executar o trabalho. Com a decadência das usinas de açúcar, Pedro Morganti perdeu as terras, o engenho fechou - apenas algumas antigas construções ainda existem - e a capela acabou sendo vendida.
Somente há dez anos a comunidade piracicabana reconheceu a sua importância histórica e em 1991 ela foi tombada pelo Conselho Municipal de Defesa do Patrimônio Artístico e Cultural de Piracicaba. Também a pequena vila italiana do século 19, a 200 metros da capela, foi tombada recentemente.
Conforme Da. Inês, a capela recebe visitantes com frequência, inclusive do exterior. O cineasta brasileiro Ugo Giorgetti visitou a capela e, encantado, decidiu fazer um documentário sobre sua história.
Tão logo Da. Inês abriu-nos as portas para a visita, outros dois visitantes chegaram. Já quase à saída, também chegou um casal de São Paulo, motivados pela mesma reportagem do jornal, e cujo pai, artista plástico, foi amigo de Alfredo Volpi. Além de recepcionar os visitantes e contar-lhes a estória da igrejinha, os moradores da Vila, organizados em um grupo responsável, promovem anualmente uma festa junina, que atrai muita gente das proximidades.
A bela capela da Vila Monte Alegre não é apenas um pedaço de história e arte praticamente desconhecidos em nossa região. É, surpreendentemente, a maior obra de Alfredo Volpi, que não consta do catálogo de sua obra, não era citada em suas entrevistas e tampouco foi tombada pelo patrimônio estadual. Quem a visitar, porém, e conhecer sua história, certamente se encantará com os afrescos, com os altares, com a cúpula restaurada, que representam um pouco da grandeza das usinas açucareiras do início do século XX.
Fotos: Bete Padoveze (janeiro2002)