quinta-feira, agosto 31, 2006

Por que terminei meu romance com Antonio Fagundes




Depois de muitos meses de românticos assédios e tentativas, finalmente resolvi ceder ao Antonio Fagundes. Um pouco de amor e romance não me faria mal e, na minha idade, as oportunidades não costumam ser tão frequentes. Além de tudo, Antonio é um belo homem: o típico machão, sensível e romântico nas horas certas. Dono de uma elegância casual, a pequena barriga lhe cai bem, torna-o um homem comum, mas verdadeiro. Fosse ele atlético ou sofisticado e perderia seu charme, que vem exatamente da personalidade marcante, do porte levemente descuidado mas ao mesmo tempo firme. Antono é daqueles homens para quem mesmo chinelos velhos caem bem - a elegância lhe vem do olhar, da atitude.

Pois bem, estava resolvido: iria dar-me a essa loucura.

É bem como esperava: Antonio é um romântico-sensível. Ao falar, sua atenção é completamente concentrada no momento presente, seus olhos são penetrantes e ao mesmo tempo delineiam um mundo vasto escondido. Seus gestos são calmos, mas não estudados. Ao mesmo tempo, a firmeza de atitude revelam o homem forte e dominador sempre pronto a eclodir num momento de perigo. Que mulher não se sentiria atraída a um homem desses, meu Deus?

Antônio fala com doçura. Anos de palco e de set de filmagem fizeram dele um homem habilidoso com as palavras. Sabe muito, sabe o que agrada às mulheres e as faz sentir importantes, sabe ser inteligente sem ser pedante. Procuro ficar quieta, apenas bebendo o sabor agradável de suas palavras, deixando que o desejo se instale de maneira definitiva em minha mente.

À medida em que Antonio fala, também meu corpo reage ao momento. Antonio sabe como conduzir uma mulher com seu doce discurso, sem usar as mãos. A esta altura, porém, já preferia sentir um pouco mais de suas mãos em minha pele.

Antonio continua seu preâmbulo amoroso - vejo que aprendeu muito na escola da interpretação e realmente impressiona. Sou, porém, uma mulher comum, e a uma certa altura as palavras têm menor importância, a ação deve ceder lugar a elas. Mas parece que Antônio não se dá conta disso, tão absorvido pelo clima de romance shakespeariano que criou.

Fico um pouco impaciente e, literalmente, vou secando de amor. Antônio não percebe. Mas eu percebo que depois de uma certa idade, alguns homens começam a confundir desejo com realização. Melhor dizendo, muitas palavras, pouca ação.

E assim, à medida em que o tempo escoa e eu me canso, o meu despertador toca. É hora de retomar a vida, enfrentar a dura realidade e esquecer Antonio.


Texto: Bete Padoveze
Fotos: Gondoleiros, Grande Canal, Veneza (Bete Padoveze)


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