terça-feira, julho 02, 2013

Razão no. 26 - Igreja Matriz de Santa Bárbara



Visão frontal da Matriz de Santa Bárbara - Junho de 2013 (foto: Bete Padoveze)
Ao entrar na Igreja Matriz de Santa Bárbara pela primeira vez (ou pela enésima, seja lá como for), não entre imediatamente após cruzar a grande porta frontal de madeira. Detenha-se um minuto para observar as paredes laterais: nelas você verá dois grandes painéis de pisos antigos, que foram retirados dos primeiros revestimentos do chão e lá colocados para lembrar um pouco da história da construção da igreja, que diretamente representa a fundação da cidade (1).

À direita de quem entra estão os ladrilhos menores, mais antigos do que os ladrilhos maiores no painel à esquerda.
Foto: Bete Padoveze - junho 2013
Após os painéis de ladrilhos você encontrará uma segunda porta com um grande vitral, sempre aberta em horários de missa ou cerimônias. Esse vitral tem o desenho de um Coração Aberto, já que a Matriz de Santa Bárbara representa o coração da cidade que acolhe a todos.
O Coração Aberto - Junho 2013 (Foto: Bete Padoveze)

Lá dentro, em geral o primeiro olhar é para o altar, obviamente o foco central de qualquer igreja. Lá estão as pinturas dos anjos de que tanto gosto...

Fotos e Colagem de fotos: Bete Padoveze - junho 2013
Olhar para os anjos pintados na parede do altar da Igreja Matriz de Santa Bárbara sempre me remete de volta à infância.Eles me fascinam pela beleza da pintura, pela expressão suave dos movimentos e das cores usadas. Por estarem tão menos ao alcance, lá no fundo do altar, também exalavam (ainda o fazem, de certa forma) o mistério do sagrado e do intocável.
Restauração da pintura do altar-mor nos anos 60. Foto obtida do site do Cedoc da Fundação Romi mostrando (1)  Paulo José da Silva e (2) Mauro Ramos
A leveza da pintura angelical acalmava. Ao contrário, as cenas da vida de Santa Bárbara retratada em cores fortes nos vitrais quebrava essa sensação celestial e me trazia de volta para o mundo dos homens e seus violentos preconceitos, que a história da vida da santa descreve. Os vitrais abaixo, instalados em 1949, foram restaurados em 2004.


O pai de Bárbara, o nobre e rico Dióscoro, descobre que sua bela filha, nascida na Nicomédia, hoje Izmit, Turquia, se convertera ao cristianismo. (4)
Desconcertado diante da cidade pela escolha da filha, Dióscoro a ameaça. (4)
Bárbara foge do pai. (4)
Dióscoro, o pai de Bárbara, a denuncia às autoridades. (4)
Presa, é torturada para desistir da fé, tem seus seios cortados e morre degolada, sendo seu pai o próprio carrasco. Diz a estória que nesse momento um imenso trovão ribombou pelos ares fazendo tremer os céus, um relâmpago flamejou e atravessando o céu fez cair por terra o corpo sem vida de Dióscoro. Por isso Santa Bárbara é conhecida como protetora contra os relâmpagos e tempestades. (Obs.: há na igreja um relicário com um pedacinho ósseo de Santa Bárbara). (4)
Sentimentos diferentes, obras de arte diferentes, ambos belos e ambos no mesmo lugar. Como quase tudo, despertam sentimentos conflitantes. Tive muitas oportunidades de me deixar levar pelos pensamentos olhando essas obras religiosas, pois, quando criança, fazendo companhia frequentemente à minha vó paterna, Dona Josefina, por várias vezes fomos a duas missas no mesmo dia, uma de manhãzinha e outra à noite!

Também em 2004 foram instalados novos vitrais retratando os apóstolos evangelistas.


Fotos: Bete Padoveze - junho 2013
Dos três vitrais antigos representando a Última Ceia, apenas uma parte foi encontrada, sendo restaurada e compondo hoje o vitral da capela lateral, dedicada ao Santíssimo Sacramento.
Foto: Bete Padoveze - junho 2013
Foto: Bete Padoveze - junho 2013
Voltando um pouquinho na história, a Capela Curada de Santa Bárbara, construída em 1818 em taipa, em terras cedidas pela fundadora Dona Margarida da Graça Martins à Cúria Paulistana,  foi elevada à condição de Paróquia em 1842, sendo pertencente à Diocese de São Paulo e tendo como primeiro vigário o Padre Francisco da Ressurreição Gonçalves. (3)

Ao longo dos anos, foi recebendo melhoramentos e mudanças, sempre contando com a ajuda dos fiéis e da população.
A igreja em 1910 (do site da Câmara Municipal)

Em 1912, início da montagem dos andaimes de madeira para a construção da torre (Fundação Romi)
A igreja recebeu luz elétrica apenas em maio de 1915 e em 1917 foi colocada a cruz na torre.


A torre em reforma em 1918 (foto do site da Câmara Municipal)
Após uma grande reforma iniciada em 1920 pelo Monsenhor Henrique Nicopelli, as obras foram entregues em 27 de abril de 1941. (2) 

Um dos itens foi a troca do púlpito de madeira pelo de mármore, que posteriormente foi removido em outra reforma.

Em 1941, foi colocado o púlpito de mármore (ainda se vê o de madeira ao lado). Foto obtida do site do Cedoc da Fundação Romi.

Na foto acima, registrada por Augusto Strazdin, também de 1941, o púlpito e os altares laterais ainda são de madeira (foto obtida do site do Cedoc da Fundação Romi).

Também em 1941, a lateral esquerda da igreja, na Rua Santa Bárbara (foto extraída do site do Cedoc da Fundação Romi).

Foto registrada em 18 de agosto de 1956 (do site do Cedoc da Fundação Romi) 

Na foto abaixo, registrada em 9 de junho de 1977, a praça em frente à igreja está decorada para a procissão de Corpus Christi. Pode-se ver em primeiro plano o relógio de sol que foi construído na gestão do prefeito Landucci e que foi retirado em 1987. 
Foto obtida do site do Cedoc da Fundação Romi
Em 2003, com uma pintura externa diferente  (Foto: Lea Minshull)
Detalhe de painel em azulejo queimado na torre (foto: Bete Padoveze - set2012)
Vista lateral externa (lado direito) - a porta menor dá acesso à secretaria  (foto: Bete Padoveze - jun 2013)
O altar-mor, tendo ao fundo as pinturas dos anjos, reúne linhas clássicas e modernas, e o resultado é um visual simples e refinado.


 A pia batismal,
 
as grandes portas externas de madeira entalhada, 









as pinturas no teto da ala lateral,
o balcão do coral, 












são mais alguns componentes importantes que preenchem o espaço e conferem mais beleza à igreja. (4)

Em 18 de fevereiro de 2012 a Igreja Matriz de Santa Bárbara, marco 'O' de nossa cidade, completou 170 anos de sua elevação à categoria de paróquia. (5)


Os belos vitrais, alguns novos e outros restaurados, são a característica mais marcante da igreja. (Foto: Bete Padoveze - junho 2013)
Atualização em 29 de julho de 2019
A Igreja Matriz de Santa Bárbara foi tombada como patrimônio cultural, histórico e arquitetônico da cidade, conforme decreto no. 6.796 de 9 de janeiro de 2018, publicado no Diário Oficial do Município. A área tombada possui 2.256,01 m², localizada nas ruas Dona Margarida, General Osório e Santa Bárbara com a Praça Rio Branco.  

(1) Dona Margarida da Graça Martins, fundadora da cidade, doou terras à cúria paulistana para que nelas fosse levantada uma capela à sua santa de devoção, Santa Bárbara. Assim nasceu em 1818 a primeira igreja, em torno da qual a cidade começou.

(2) Monsenhor Henrique Nicopelli foi pároco da Igreja Matriz de Santa Bárbara de 1920 a 1952.

(3) Até 2013 passaram pela Paróquia 36 padres, sendo o atual pároco o Pe. Jucimar Bitencourt.

(4) Fotos: Bete Padoveze - junho 2013

(5) Em 18 de fevereiro de 2018 a Paróquia completará 176 anos.



3 comentários:

  1. Bete:

    Agora você se superou!
    Esta foi uma verdadeira reportagem. Ficou ótimo!

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  2. Eu, também, gostei muito. Parabéns pelo trabalho. Ricardo

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