sábado, maio 27, 2006
Meu amigo Waltinho
Meu amigo Waltinho faleceu há algumas semanas. Iria completar 80 anos em agosto, quando finalmente se retiraria do trabalho que exercia há várias décadas. Tradutor de inglês, dos bons, Waltinho ensinou-me muita coisa. A bem da verdade, foi a primeiro a instilar-me confiança para aprender e mostrar o que tinha aprendido. Devo muito a ele, principalmente pela disponibilidade e boa vontade com que sempre me atendia, mesmo quando trabalhávamos em empresas diferentes.
Filho de diplomata, tinha modos elegantes e paciência em todas as situações. Comportava-se como um gentleman. A mim (como às outras mulheres do seu círculo mais próximo) abraçava com um entusiasmo cheio de energia próprio dos homens jovens. Fazia a gente se sentir apreciada e bem vinda.
Tínhamos conversado no dia anterior, eu reclamando da falta que ele me faria. Quem mais me socorreria com tanta propriedade nas minhas dúvidas? Dois dias antes, tendo marcado com ele uma breve visita à sua sala, desmarquei na última hora, sempre muito atarefada. Não lhe dei meu último abraço, do que sinto uma tremenda falta.
Ensinando-me lições de inglês por tantos anos, Waltinho ainda me ensinou a sua última lição - a de que é possível sermos úteis até o fim e, através do nosso trabalho, deixarmos aos que nos cercam não apenas memórias voláteis, mas a marca indelével de quem ensinou, orientou, aconselhou. A sua lição está aqui, impressa de forma profunda e definitiva. Cabe a mim agora transmiti-la aos meus.
Foto e Texto: Bete Padoveze 27.05.06
segunda-feira, maio 01, 2006
Nada de novo
A vida parece ter nenhum sentido quando acordo, abro a janela e a perspectiva que vejo é a mesma do dia anterior. Planejo o meu dia e vejo as mesmas pessoas, tarefas e lugares - nada de novo.
Tudo tão antigo como eu mesma me sinto. A emoção de outrora dando lugar às necessidades de todos os dias - nada de novo.
Quando finalmente vou ceder aos meus sonhos? Quando vou descobrir maneiras novas de viver, já que a vida é tão breve e fugitiva?
Nos minutos de insensatez frente ao espelho, pesquiso novas fronteiras de vida. No entanto, mecanicamente repito os mesmos gestos de todos os dias - nada de novo. Apenas vejo uma face ligeiramente conhecida, com mudanças que não percebo.
Seria a vida tão difícil de saborear ou apenas eu não consigo entendê-la?
No caminho, vou descobrindo que as mesmas coisas que fiz ontem serão necessárias amanhã (e se a vida não for como nos meus sonhos? Será que me engano todos os dias?), e não há como ignorá-las.
Decido que as repetirei cada vez que for preciso, e na manhã seguinte, ao abrir as janelas, questionarei novamente as minhas decisões até aceitá-las. Sempre farei assim - nada de novo.
22/08/91
Foto: Bete Padoveze - Piracicaba - Rua do Porto, 2005
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