sexta-feira, abril 14, 2006

Janelas





















Abri uma janela. Abri, com dificuldade, uma pequena janela meio encrencada e velha, que me custou muito esforço. Há muito que venho tentando e as minhas mãos já estavam machucadas por isso. Mas não consigo descrever, nem vou esquecer jamais, a inebriante sensação de esperança que tive quando consegui movimentá-la. Valeu-me, esse sopro de futuro, todas as dificuldades.

Quando abri, devagarinho, aquela feia janela, que foi por tanto tempo a minha maior aspiração, não vi aquele dia ensolarado que esperava. Vi apenas um sol tímido e vacilante, medroso de romper a neblina da manhã. Mas havia sol e isso era bom! Havia sol e havia dia, havia sol e havia verde, havia sol e havia vida! Havia, em mim, a coragem que emprestei ao sol, que logo, logo, se tornou brilhante.

Por isso, amei aquele sol, um sol que a princípio temeu, mas depois ousou. Ousou mostrar toda a sua beleza e foi belo. Ousou se entregar à sua própria grandeza e foi grande.

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Hoje abri mais uma janela. Custou-me menos e eu já não precisava ver o sol para enfrentar o dia. Bastava-me ver as coisas como elas relamente são, porque eu tinha suficiente coragem.

As minhas mãos continuavam doloridas do esforço anterior, mas havia nelas um orgulho das próprias dores, que só existe quando se faz tentativas.

Os meus olhos não esperavam um belo dia, porque já havia um sol interior. Os meus olhos viam com o coração, e este estava feliz da coragem que havia emprestado a outrem.

Meu coração vibrava mansamente, como quem já viveu e sofreu muito, mas ainda era um coração jovem.

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Amanhã abrirei mais uma janela...



26.07.82
Foto: Bete Padoveze (2006 MedCruise)

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