Já é muito tarde. As luzes todas já se apagaram e eu fiquei ainda aqui sozinha, pensando, esperando.
Não há ruído algum - não os ouço. Ouço apenas o bater descompassado do meu coração intranquilo, apressado. Parece que não há vida nenhuma lá fora e, no entanto, há uma vida explodindo em mim. Há um quê de tristeza nessa escuridão, que me transporta e me faz voltar prá dentro, faz sentir o gosto ligeiramente amargo deste quietude.
No entanto, é bonito este silêncio. Não é vazio - ao contrário, este silêncio preenche o vazio todo e me reconforta. Este silêncio é concreto, pleno, é vivo!
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Ainda não consegui encadear os pensamentos e as horas, assim, demoram a passar. Tenho pressa de chegar ao desfecho e, aos tropeços, nada me parece claro. Preciso dormir. Quem sabe a manhã me traga luz nova...
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Já ouço alguns ruídos. Já sinto acordar a mesma vida de todos os dias, o mesmo dia de todos os dias, o mesmo, igual, sempre.
Nasce porém em mim uma nova esperança. Ou é a mesma velha esperança, vestida de roupa nova...
31.08.82
Foto: Bete Padoveze (Dubrovnik, Croácia, 2005)
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